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Legaliza! É pela vida das mulheres!

Texto de opinião produzido pela Vereadora Karen Santos e a Professora Tzusy Estivalet:

Há mais de um milhão de abortamentos inseguros no Brasil. São aproximadamente 250 mil internações em decorrência de complicações pela prática ser criminalizada e, portanto, insegura (Cisne, et al., 2018). Essa é uma das principais causas de mortalidade materna no país, sendo a curetagem pós abortamento um dos procedimentos obstétricos mais realizados pelo SUS.

O perfil das mulheres que abortaram indica que a maioria tem filhos/as, é cristã e tem uma relação estável, o que revela que a prática é muito mais comum do que se pensa, e subnotificada. Os óbitos maternos acontecem, em sua maioria, em setores mais empobrecidos da classe trabalhadora, com baixa escolaridade e baixos salários, incidindo principalmente sobre as mulheres negras (MS, 2009).

A realidade do aborto inseguro no país e no mundo é um retrato das desigualdades de sexo, raça e classe. A criminalização do aborto atinge principalmente as mulheres pobres e negras aumentando a discriminação social e aprofundando as contradições da questão social.

Essas mulheres são apropriadas e espoliadas pela ordem capitalista-patriarcal-racista, sofrendo privações e violações, desde a dificuldade de inserção no mundo do trabalho, em decorrência da divisão sexual e racial do trabalho, até o seu direito subjetivo à maternidade (Cisne, 2018).

A legalização do aborto é uma pauta histórica do movimento feminista. Todos os anos levamos nossas pautas às ruas. Nesse momento em que a discussão sobre a descriminalização do aborto até 12 semanas volta ao STF, urge nossa mobilização. É preciso organizar a luta e fomentar debates sobre o aborto e o direito de decidir sobre o próprio corpo junto aos debates de saúde pública, classe, raça, educação sexual e as inúmeras pautas que atravessam a discussão. Mulheres ricas e pobres abortam; as ricas pagam, as pobres morrem, ficam com sequelas, são criminalizadas. Todas sofrem.

Educação sexual nas escolas para prevenir, contraceptivos gratuitos para não engravidar e aborto legal, seguro e gratuito pelo SUS para não morrer.

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Unidade para Derrotar Melo. Democracia para decidir qual Porto Alegre queremos!

É ingenuidade e desrespeito com a luta das mulheres e negros achar que somente o gênero e a raça vão ser capazes de encantar a população para a derrota do Governo Melo.

Não vai ser de barbada derrotar a composição de centro à extrema direita que dão base para a venda da nossa cidade, para a manutenção das terceirizações, as negociatas de direitos, e que representam o conservadorismo e o fascismo em nossa capital.

Precisaremos pessoas com capacidade de dialogar sobre os problemas da cidade sem cair na cilada (de sempre) das ‘falsas promessas’.

As eleições de 2024 serão um desafio pra toda a esquerda, e já estamos atrasados nessa preparação.

Estamos perdendo cotidianamente nossos espaços públicos e políticos.

Qual a contribuição do PSOL para pensar os grandes problemas da cidade?

A tendência de não pensarmos coletivamente é seguir a cartilha que nos trouxe até aqui: substituir o protagonismo da população por uma representatividade estética, que pode até dialogar com os convencidos, mas não transforma uma cidade.

Queremos debater política. Representatividade importa sim, mas pressupõe desde já decisão coletiva e conteúdo político.

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BERÇO DO FASCISMO? O QUE NÃO SE PODE DIZER SOBRE JUNHO DE 2013

Muita coisa pode ser dita sobre Junho de 2013, menos de aqui ali, simplesmente, se gestou o ovo da serpente fascista no Brasil. Junho não abriu as portas para o inferno que viria a seguir com a lava-jato, os verde-e-amarelo, o golpe e o bolsonarismo. Quem faz essa conexão direta geralmente está interessado em uma narrativa que os abstenha de seus erros e responsabilidades.

Não quero dizer que não tenha relação alguma. Junho foi um movimento diverso, com muitas caras, gritos, bandeiras, intenções e pautas. Foi, antes de tudo, marcado por uma disputa sobre os rumos e o sentido de seu próprio movimento, prenúncio da disputa pelos rumos e sentido de país que viria a seguir. Disputa essa que permanece viva e atual.

E mais, apesar do alívio da vitória eleitoral, essa disputa vem sendo vencida pela extrema direita. Talvez estejam levando a melhor justamente por assumirem que algo está em disputa, diferente dos que pensam com o esquema simplista. Junho de fato abriu o caminho para a extrema direita. Mas fez isso, porque abriu o caminho para todo tipo de corrente de pensamento e ação condizente com as sufocantes condições de vida no país e com o espírito de indignação e revolta que geram. O que fez a diferença foi que a extrema direita soube, ou melhor, está sabendo ocupar esse caminho. Na falta de uma alternativa de esquerda, Bolsonaro e seus congêneres aparecem como únicos dispostos a mudar as coisas.

Junho explodiu a partir da luta contra o aumento das passagens de ônibus, mas logo transbordou para a luta pela cidade e por direitos, sintetizada no “saúde e educação padrão Fifa”, num consciente contraste com a prioridade e os esquemas corruptos por trás dos megaeventos esportivos, envolvendo construtoras, empresas e governos. Neste momento, a imensa maioria nas ruas eram jovens trabalhadores e estudantes que não aguentavam mais o discurso melhorista que não fechava com o sufoco do dia a dia. Reivindicavam um país melhor, com mais direitos e vida digna. Completamente o contrário do fascismo. Esses jovens, no entanto, foram brutalmente reprimidos com o aval de todos os governos e partidos da ordem. Aumentando a revolta.

Na falta de diálogo e solução por parte dos governos, o movimento cresceu e começou a atrair os setores da classe média mais à direita e os movimentos fascistas. A partir daí a disputa ganhou forma e o resultado foi diferente em cada cidade. Aqui em Porto Alegre, por exemplo, tínhamos o Bloco de Lutas, que conseguiu fazer frente à extrema direita, mantendo as pautas classistas, a direção dos atos e o sentido de Junho num caminho progressista, construindo inclusive um projeto de lei popular pelo Passe Livre e a municipalização do transporte.

Em seguida, o governo federal propôs um pacto e, com mais promessas, Junho foi contido. No entanto, nenhuma das pautas foram realmente atendidas. Os problemas do transporte, da saúde e da educação, o caos e a violência nas cidades, a precarização do trabalho e o desemprego, estão muito pior do que antes. A disputa mais acesa do que nunca. Negar ou mistificar o que foi Junho apenas favorece o fascismo bolsonarista.

O primeiro passo para varrer as forças autoritárias é reconhecer que haviam e há problemas no “paraíso”. O Brasil está em crise, milhares de pessoas vivem no sufoco, tem muita coisa errada e que precisam mudar. O segundo é reconhecer a força das ruas e a insuficiência das instituições que servem mais para manter essa ordem de coisas do que para resolver os problemas das pessoas.

Junho nos traz muitas lições. Assim como muitos perigos e muitas possibilidades. Se estivermos dispostos a aprender, Junho ainda é o ponto de partida para a construção de uma alternativa transformadora que derrote o fascismo e garanta vida digna e direitos para todos

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Com Melo a educação vai de mal a pior 

Os problemas na educação são diversos e antigos, não começou agora, mas só se aprofundam na medida em que nada é resolvido. Os gastos abusivos em depósitos para guardar material que não foi organizado com as escolas é um escândalo, mas tem mais coisas acontecendo.

O governo Melo fala que está aberto ao diálogo, mas toda sua gestão em relação à educação tem sido de cima para baixo e, quando tem a oportunidade, criminaliza direções e comunidade escolar, como fez em entrevistas recentes para rádio e jornal. Diálogo não se refere somente a ouvir, mas a colocar os ouvidos a disposição e incorporar elementos, ideias, sugestões e propostas das categorias.

Para enfrentar o problema estrutural das escolas precisamos de investimento.

A situação é tão precária que há um mês atrás denunciamos que as caixas d’água de uma escola estavam contaminadas por dejetos de pombos e restos de animais, mesmo após empresa fazer a higienização. O trabalho das cozinheiras e das trabalhadoras da higienização são fundamentais para educação, mas muito desvalorizado. Se contrata diferentes empresas terceirizadas que atrasam os salários todo mês e mudam de razão social apenas para não pagar os direitos trabalhistas. Isso com o aval da prefeitura, que segue as contratando.

Foi retirado, ainda no governo Marchezan, a guarda municipal das escolas e agora, com a quantidade crescente de ataques, se faz necessário retomar a guarda, mas num sentido comunitário, que conheça os alunos, as famílias, a realidade do bairro, e não apenas ostente mais uma arma como ilusão de segurança. Fizemos um pedido de indicação ao governo e até agora não tivemos resposta.

Ainda, desde 2019 a lei federal 13.935 (que prevê psicólogos e assistentes sociais nas escolas) deveria ter sido implementada, já foi aprovada nas comissões da câmara, já foi aprovado nosso pedido de indicação. Nosso mandato organizou uma primeira proposta de regulamentação dessa lei construída com os conselhos estaduais, sindicatos dos psicólogos e assistentes sociais e até agora não conseguimos avançar. O que falta acontecer?

Falta monitoras especializadas para trabalhar com educação especial, faltam mais de 6 mil vagas na educação infantil, além da falta de professores para educação fundamental.

A categoria municipária luta por reajuste salarial, e dentro disto as professoras, que são a maior categoria do município. O governo Melo propôs 5% de aumento parcelado em 5 vezes e 1 real de aumento do vale alimentação. Enquanto para ele a proposta de aumento é de 60%, e de 30% para seus secretários. É uma inversão da lógica não?! Quem atua para fazer valer a política pública não deveria ser valorizado?

É a segunda secretária da educação que sai em três anos, e agora assume o vice-prefeito, Ricardo Gomes, que não tem nenhuma experiência com educação. Como dar continuidade ao trabalho? Como estruturar mudanças que façam sentido e vão ao encontro do que a comunidade escolar espera? Melo diz que vai renovar todo o andar de baixo da SMED, mas na realidade os problemas estão nos andares de cima que teimam em querer resolver problemas históricos sem participação popular. Se é que querem mesmo resolver algum problema!

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POR UM PSOL QUE PENSE GRANDEPOR UM PSOL QUE LUTE PELO PODER

Tese do Alicerce ao 8o Congresso do PSOL

“Eu tô falando pro futuro! Não tô falando nem pro presente horrível que nós temos, nem pro passado. […] pensem grande. Não pensem pequeno. Não acreditem no impossível. O impossível torna-se possível se você quiser. Ele vira possível. É preciso é coragem. É preciso é tenacidade. É preciso é força! E é preciso não esconder a realidade. Não ter medo dela.
É preciso falar as coisas como elas são.”
Plínio de Arruda Sampaio (Candidato a presidente pelo PSOL em 2010)

A crise carrega perigos e oportunidades. O PSOL se vê diante de uma encruzilhada. Qual caminho seguir? O dilema não é novo e ganha significado essencial nesse Congresso. Sem firmeza política e programática, o projeto do PSOL corre risco de sucumbir sob a pressão exercida pela extrema direita e a atração provocada pela esquerda do regime. Trata-se da razão de sua criação e existência. Avançaremos na construção original de uma estratégia de poder ao povo trabalhador e seremos instrumento de transformação anticapitalista, anti-imperialista, socialista e democrática? Ou viveremos como mais um dos muitos partidos vegetativos do Estado brasileiro? A diferença entre caminhos é gritante, mas na prática e no presente as coisas não são tão simples assim.


Precisamos fazer do Congresso um momento de profunda reflexão e debate sério sobre o rumo a tomar. Precisa permear a vida e a base do partido. Cada militante, cada ativista, cada filiado deve ser convidado a intervir sobre o que está em jogo, o futuro do PSOL! Essa tese é uma contribuição ao debate, um chamado a pensarmos grande!

PSOL na encruzilhada


A inédita conjuntura de 2023 complexificou as tarefas e o processo de reorganização. O governo eleito sob promessas para angariar apoio popular, mesmo que implemente políticas para mitigar a crise para o povo trabalhador, não a resolve. Administra o Estado para atender os interesses da burguesia. Nem por isso deixa de sofrer o ataque da extrema direita, que não pode se contentar com o neoliberalismo republicano. São pessoas que, para sobreviver à crise, dependem de um Estado autoritário para defender a concorrência, a exploração, a livre destruição.


Não podemos titubear! Diante de qualquer ameaça vinda da extrema direita às parcas liberdades democráticas ou ao governo Lula, devemos combater em unidade com todas as forças democráticas. Foi o que tentamos com as campanhas contra o golpe, o Fora Temer e o Fora Bolsonaro, muitas vezes enfrentando o freio de mão petista.

Não fazemos coro com os defensores do regime e do Estado burguês. Sabemos bem como funciona a democracia nas periferias. Denunciamos seu caráter racista e sua blindagem aos interesses da maioria. Mas as coisas precisam ser combinadas. Temos hoje direitos democráticos a serem defendidos como pressuposto da construção de uma alternativa antirregime, uma verdadeira democracia.


A necessidade de unidade carrega também uma armadilha. Na sanha de enfrentar o golpismo, corremos o risco de transformar o PSOL em ala esquerda do regime, de aderir ao programa social liberal, de assumir o papel de conselheiros de Lula e substituir a práxis militante por uma atividade burocrática, institucional, que obstrui o caminho da luta por transformações anticapitalistas.


Como nós, muitos veem com preocupação a Federação com a Rede e a aproximação ao PT e seu governo. O que dá base para essa aproximação é uma combinação da pressão exercida pela direita e da ideia, em nossa opinião, equivocada de que o Programa Democrático e Popular não foi realizado ou foi traído e abandonado. A tarefa consiste justamente em superar o PDP na prática e na teoria, o que exige esforço de compreensão e intervenção revolucionária na realidade.


A perda de independência é ao mesmo tempo uma perda de identidade e de projeto. Sem que se mire na necessidade de construção de uma nova referência política e programática para a classe trabalhadora, o futuro do PSOL está ameaçado. Ainda que cresça eleitoralmente, pode ter uma
existência vegetativa no sistema.


Basta lembrar da disputa aberta em Junho de 2013 para dimensionar o problema. A incerteza econômica e a instabilidade política tendem a produzir novas rebeliões de massas. Enquanto a extrema direita protagonizou e dirigiu mobilizações na rua e ações radicalizadas, Lula e o PT dão mostras de que atuam como freio das lutas. A rua para eles deve ser ocupada o mínimo possível, a batalha deve ficar nos marcos da ordem, controlada, para não prejudicar a governabilidade. É uma receita perigosa. A desmobilização do #ForaBolsonaro por pouco não acabou em derrota.


O resultado desastroso da política de apassivamento é o desarme da classe justamente quando é preciso se preparar para uma batalha inevitável.

3 Caminhos que devemos evitar


Todos os caminhos são legítimos e aqueles que lutam por um PSOL à altura dos desafios precisam estar dispostos ao debate sério, tendo como pressuposto a responsabilidade com a luta de classes.


O mais óbvio atalho a se evitar é o aprofundamento da linha da atual direção, pelos motivos já discutidos. No entanto, não é só isso que pode esterilizar nossa atuação e atrasar a reorganização.


No polo oposto corremos o risco de deslizar para uma oposição principista, que desconsidera o processo de consciência e as experiências com o governo. Que subestima a ameaça da extrema direita e a importância da unidade em defesa da democracia. Lamentamos a saída do PSOL de valorosas correntes e militantes que optaram por esse caminho. Mais lamentável ainda é a comemoração da direção com esse processo que enfraquece o partido.


O terceiro caminho é aquele que, reconhecendo a encalacrada da conjuntura, contenta-se com o papel de conselheiro do governo, reivindicando os pontos positivos, apontando os negativos e sugerindo correções que jamais serão acatadas. Restringe-se a uma oposição comentarista, sem de fato enfrentar o que precisa ser enfrentado com mobilização de rua e protagonismo popular.


A discussão sobre a relação do PSOL com governo não pode se findar com a resolução do diretório que libera os militantes para entrarem no governo desde que não tenham cargo na direção. Na prática, coloca o partido na base do governo. Esse congresso precisa se posicionar ostensivamente pela independência.

O caminho a seguir: PSOL anticapitalista, anti-imperialista, socialista e democrático


Com o tempo, o debate estratégico que animou a fundação do PSOL foi amornando sem se consolidar uma perspectiva sobre as contradições e dinâmicas que poderiam colocar o país no caminho do socialismo e da liberdade. Esfriou também o debate sobre as tarefas do partido na luta
pelo poder.


Os tempos, porém, clamam por transformação. Nas mãos das forças autoritárias a selvageria da concorrência correrá sem limites, generalizando em todos os níveis a barbárie que vivemos, da economia à cultura, à política, à linguagem. Nos braços de uma espécie de déspotas esclarecidos do social liberalismo, que tentam frear e compensar as consequências destrutivas do capital, talvez vivamos momentaneamente uma barbárie mais refinada, educada, com discursos humanitários e ecológicos, mas nem de longe suficientes para nos salvar da catástrofe iminente.


Melhorismo não basta! Precisamos resgatar valores e atitudes que eduquem militantes para se sintonizar com o que tem de novo e superador na realidade e reafirmar aprendizados de nossa classe. A mudança vem de baixo, do protagonismo do povo trabalhador, das medidas de transição
que atraiam a atenção e os interesses da maioria, da derrubada do Estado burguês e da reeducação política capaz de fazer frente ao bombardeio ideológico e comportamental do neoliberalismo e sua máxima de que “não há alternativas”. Sempre há.


As atuais condições não são sustentáveis. Mais dia menos dia, a panela de pressão explode. Qual será o papel do PSOL nesse momento? Teremos construído uma corrente de pensamento e ação na sociedade capaz de disputar algo como Junho de 2013 e conduzi-lo para algo construtivo? Agarraremos a luta por emprego e vida digna, por transporte, saúde, educação, por direitos básicos, que ninguém ousa levar às últimas consequências?


A crise faz ressurgir debates sobre alternativas de sociedade. O nazifascismo vem crescendo com menos constrangimento. Até mesmo o comunismo autoritário, stalinista, voltou a encontrar audiência. A neocapitalista China aparece como arremedo de socialismo.

A superação da crise coloca a disruptiva; socialismo ou barbárie?! Tanto é, que a extrema direita se apresenta disposta a reorganizar a sociedade sob valores reacionários e a ir às últimas consequências. Impunham a bandeira contra as elites e o sistema. Acusam de comunismo ou socialismo toda e qualquer iniciativa humanitária, reformista, de controle dos excessos do
capitalismo. Justificam a crise civilizatória como produto do que tentou controlar o capital, quando na verdade é o contrário.


O PSOL precisa erguer alto e firme suas bandeiras. Muito além de vagas nas instituições ou governos, o poder que devemos disputar está nas ruas, nas paradas de ônibus, nas fábricas, nas oficinas, nas cozinhas, pedalando, nas escolas, nos bairros e periferias – onde estiver o povo trabalhador na sua batalha diária, é ali que estará o poder, é ali que devemos estar.


Em conexão com as massas e com política de mobilização, educação e organização permanente podemos aproveitar a oportunidade que a crise nos abre.

Uma crise permanente


O capitalismo neoliberal esgotou enquanto alternativa de sobrevida para acumulação de capital. Em crise desde 2008, arrasta-se em dinâmica destrutiva. De epidemias silenciosas que arrancaram parte da alegria de viver a uma pandemia global, cujas causas socioambientais permanecem inalteradas. De conflitos locais à guerra na Ucrânia e ao acirramento das disputas geopolíticas entre EUA e China que podem conduzir o mundo a uma catástrofe sem precedentes. Do salto tecnológico à devastação de biomas e florestas que ameaçam a continuidade de formas de vida complexas, sobretudo animais de grande porte, como nós. Nas grandes cidades, concentradoras e geradoras de frustração e violência, predominam o desemprego e precarização do trabalho, que transformam centenas de milhares de pessoas em descartáveis, acirrando os problemas da vida social.


Estas violências, que combinam superexploração da força trabalho, espoliação, expropriação e opressões atingem brutalmente nossas vidas. Cresce a violência contra mulheres para além da dupla (às vezes tripla) jornada e menores salários, sem direito à segurança nas ruas e nas próprias famílias. Precisamos reagir como classe a essa insistência em desconstituir o ser social pela sua condição de mulher, negro/negra, indígena, LGBTQIA+, pessoa com deficiência, pessoa em situação de rua, pessoas vindas de outras regiões/países. É necessário buscar formas que nos acolham e não nos dividam!


Na dimensão subjetiva, a crise se dramatiza na perda de sentido na vida e na falta de perspectivas para a juventude, que tornam o futuro pouco animador. Ninguém sinceramente espera viver muito melhor amanhã. Salários menores, empregos dignos mais raros e disputados, inflação devorando o consumo das famílias e inviabilizando a possibilidade de sonhar. Praticamente ninguém pode ter real propriedade sobre os meios de estruturar e dar base para uma nova vida.


Sob a lógica da propriedade privada, do domínio oligopólio das big techs e dos conglomerados financeiros, a sociedade que evoluiu sobre o mito do empreendedorismo, da liberdade sem desordem, do bem-estar sem servidão produziu na realidade o seu oposto. Para a maioria é quase impossível sobreviver, quem dirá empreender. A servidão virou um privilégio. As relações são tão precárias que desordenam a sociedade.


Nada indica reversão dessa tendência destrutiva. Com governo algum se vê mudança significativa. A burguesia é impotente frente a impossibilidade de criar espaço suficiente para valorização do capital sobreacumulado. Todas as receitas vão na mesma direção; empurrar o problema para a frente
sem achar solução. No Brasil não é diferente. Somos um país comandado por uma elite colonial. Como nação, jamais superamos o subdesenvolvimento e a dependência.

Alívio Imediato


A crise amplia gargalos para o desenvolvimento do país e a dominação da Nova República. A ameaça ao status de diversos setores gera disputa política. Disputa cujo protagonismo tem sido da extrema direita, que conseguiu apresentar uma visão alternativa para os setores da pequena
burguesia e da classe média, desesperadas com a proletarização e a perda de privilégios, e para setores da classe trabalhadora que só veem possibilidade na lei da selva.


No processo da crise, Bolsonaro escalou ao poder contrariando interesses das frações tradicionalmente dominantes. Na presidência, relutou em ser controlado. Se dispõe a radicalizar a política apelando à rua, empunhando inclusive bandeiras antissistema abandonas pela esquerda. Ocupa um espaço que poderia ser nosso. Além de incapaz, Bolsonaro se mostrou perigoso. Daí as diversas manobras do regime para controlá-lo e buscar uma alternativa confiável aos de cima.


O papel do PSOL na derrota eleitoral de Bolsonaro, apoiando a campanha Lula, foi um acerto a ser reconhecido. A vitória trouxe a sensação de alívio diante da tragédia que seria uma reeleição. A força dessa tendência, no entanto, não está só no governo. Bolsonaro não brotou do nada, mas da
sociedade que evoluiu sem resolver problemas históricos e que manteve na exclusão uma parcela enorme da população. É um sintoma, não a causa.


Sem alterações no ambiente social, sem transformações na dinâmica e na estrutura do país, sem garantia de condições de vida digna e de esperança em dias melhores, ou seja, sem que se supere a crise pela perspectiva do povo trabalhador é pouco provável que consigamos conter a força da
extrema direita.


A crise política é permanente. A composição atual é um episódio. Mais capaz de administrar os conflitos e menos perigoso para o regime, o governo Lula-Alckmin-Tebet resultou como solução provisória. Entretanto, já é nítida a tentativa de captura pelo Congresso Nacional, onde se expressam os interesses fragmentários das velhas oligarquias conservadoras. Funcionando por aparelhos, a Nova República por vezes só se mantém pelas mãos do Judiciário e sob constante ameaça de intervenção militar. Parece nítido que Lula não age para se libertar e governar, o que exigiria mais mobilização popular e menos negociação com o que tem de podre na política. O resultado do arranjo é incerto. É um governo que gira em torno do conflito de poderes que mantém viva a crise política.


É certo que para a classe trabalhadora se trata de um governo diferente e melhor, com algum grau de preocupação social e consequência política. Mas não nos iludamos, trata-se de um governo social liberal, a serviço do capital. Apenas para ilustrar, a quem interessa o Arcabouço Fiscal? Não há o que disputar por dentro!

Pensar grande é ir além da miséria do possível


O PSOL tem diante de si a possibilidade e a tarefa de se converter em instrumento de força, tenacidade, coragem e esperança para todas as vítimas do sistema. Podemos ser portadores de um projeto de futuro que vá além do melhorismo, que transforme o impossível em possível. Para isso é preciso vontade! É preciso estar aberto ao novo! Nosso povo é gigante e batalhador, digno de uma vida melhor e de um partido que expresse seus anseios. Por isso e para isso construímos e
defendemos o PSOL.

“Não estamos perdidos. Pelo contrário, venceremos
se não tivermos desaprendido a aprender.”
Rosa Luxemburgo

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Junho de 2013 – há 10 anos milhões de brasileiro tomaram as ruas do país.


Em Porto Alegre a luta iniciou contra a máfia do transporte, há anos sem licitação, e o anual aumento abusivo da passagem. O BASTA veio quando movimentos sociais e pessoas não vinculadas a política foram às ruas. Ninguém esperava que o movimento se tornaria algo gigante, extrapolou tudo o que conhecíamos.


É também nesse contexto que governos tanto federal quanto estaduais e municipais investiam rios de dinheiro público na preparação da Copa do Mundo 2014, removendo comunidades, violando todo o tipo de direitos humanos e superexplorando trabalhadores na construção dos estádios. Mas ruas e redes vimos muitos cartazes reivindicando ao invés de Copa, escolas e hospitais “padrão FIFA”.


Não era só sobre 20 centavos de aumento. Foi por saúde, educação, emprego, direito à cidade e ao lazer. Existia um descontentamento generalizado. Queríamos o tal Brasil do futuro que nunca chegava.


Nas periferias de um lado remoções urbanas, de outro as unidades de polícia pacificadoras (UPPs), legítimava a truculência policial, exterminando jovens negros, crianças e mulheres. Da parte do Estado Brasileiro a coerção aos atos foram intensas, investimentos bilionários em novas tecnologias de segurança e armamento. E do lado do legislativo e judiciário novos arcabouço legais (Lei Geral da Copa, Lei da Garantia e Ordem, Lei antiterrorismo) tratavam manifestantes como terroristas.


Em Porto Alegre tivemos uma experiência de unidade dos lutadores e ajudamos a construir o Bloco de Lutas que teve nas suas ASSEMBLÉIAS um papel crucial, inclusive propondo junto a ocupação da Câmara de Vereadores, um projeto de lei pelo passe livre (que virou uma mera indicação ao executivo) , e após um projeto de iniciativa popular para municipalização do transporte (que nunca chegou a ser protocolado).


As mídias alternativas também foram uma resposta potente as mídias tradicionais parciais. Atuavam na cobertura independente dos atos e como tudo nessa vida, foi um fenômeno disputado por todas as matizes políticas. Os desdobramentos ainda vamos analisar. Mas antes queremos saber, tu chegaste a participar de junho de 2013? Do teu bairro, da tua cidade, como tu percebeu esse movimento?

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Higienismo Social – a política de Sebastião Melo para a População de Rua em Porto Alegre

É uma vergonha que em meio a crise que vivemos a ação do governo Melo tem sido de coerção da população de rua. Internações compulsórias foram denunciadas pelo Conselho Municipal de Saúde essa semana.
O desmonte da assistência social veio com força no governo Marchezan e até agora o governo Melo tem seguido a mesma agenda. As vagas em abrigos são insuficientes, o desmonte e sucateamento dos aparelhos de saúde mental, como por exemplo o fechamento do Hospital Álvaro Alvim (que, pasmem, foi comprado pela Melnick) a constante precarização do Postão da Cruzeiro (PACS), os hospitais gerais dificultando o acesso as internações de Saúde Mental, o SAMU, de maneira verticalizada, simplesmente deixando pessoas em situacão de crise nas portas dos CAPS, sobrecarregando ainda mais estes serviços que não contam com estrutura, equipe e equipamentos para atendimento de acordo com a demanda e complexidade destes casos, além de já ser responsável por um grande número de atendimentos de Saúde Mental no território, com prerrogativa contrária às internação compulsórias arbitrárias.
A relação do governo Melo com os setores neopentecostais na Câmara, que tem um viés manicomial e anti-reforma psiquiátrica, que encontram nas comunidades terapêuticas (conhecidas como Fazendas) um lugar de cooptação via religião e relação financeira com o Estado podem explicar esse tipo de política.
Os números de pessoas em situação de rua que a prefeitura apresenta são subnotificados, enquanto apresentam o número em torno de 2 mil pessoas, a professora da UFRGS Maria Gabriela Godoy questiona, visto que no último quadrimestre de 2022, o relatório da Secretaria Municipal de Saúde registrava 9.307 cadastros de pessoas em situação de rua atendidas pelas quatro equipes de Consultório na Rua.*
As pessoas querem casa, dignidade, emprego, direitos sociais.
Antes de mais nada deveríamos efetivar e ampliar a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), contratar mais profissionais qualificados e concursados pra saúde mental.
Poderíamos abrir os imóveis desocupados no centro da cidade para um projeto de transição enquanto se pensa uma política eficiente para que as pessoas tenham lugares para viver, que consigam reconstruir suas vidas.
Para as construtoras poderem lucrar com a cidade, as pessoas pobres são expulsas do território. A segurança que a sociedade reivindica perpassa encararmos de frente o problema da crise econômica, da desigualdade social, do direito a terra, de acesso aos equipamentos públicos e ao trabalho digno.

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Com esse arcabouço fiscal será difícil unir e (re)construir o Brasil

Desde que foi enviada ao Congresso, a proposta de reforma fiscal do governo, apresentada pelo ministro Fernando Haddad, está no centro do debate público. Com tantas controvérsias e incertezas fica difícil entender como de fato essa nova política desembocará numa reconstrução do país.

Em primeiro lugar, o Brasil precisa mesmo ser apenas reconstruído ou ainda construído? Quando se olha para o estrago promovido nos últimos anos por Temer e Bolsonaro com suas reformas da previdência, trabalhista, teto fiscal, fica óbvio que algo precisa ser reconstruído. Deveríamos começar pela revogação das reformas e a elaboração de um novo marco para proteção do trabalho e garantia de condições de vida digna para a população.

Porém, mais do que voltar ao que era antes, precisamos projetar um novo futuro. Por mais de cinco séculos o Brasil acumula problemas que limitam sua independência e desenvolvimento nacional. Será preciso resolvê-los para unir e construir uma nação.

Ao invés de atacar esses problemas, o que exigiria uma ampliação pesada de investimentos em saúde, educação, transporte, habitação, geração de emprego e renda, o novo arcabouço se dobra aos grandes investidores que participam do bazar da dívida brasileira, com sua paranóia de superávit fiscal, receosos com um possível calote do estado.

Dos 4 trilhões executados pelo governo federal no ano passado, 1,9 foram para o pagamento dos juros e amortizações da dívida, representando 46% do orçamento. Em educação foram 2,7%, saúde 3,37%, segurança 0,29%, ciência e tecnologia, 0,20%, transporte 0,19%, e assim por diante. O contraste é avassalador.

Qualquer reforma que reforce essa lógica ao invés de subvertê-la estará destinada ao fracasso. Como puro instrumento de repressão e transferência de recursos sociais para bolsos privados, um estado regido pela razão neoliberal irá minar ainda mais a sua legitimidade pública. A crise continuará, assim como a desunião e o subdesenvolvimento de um país ainda trincado pelo abismo da segregação social.

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A educação pede socorro

Nos deparamos com a notícia de que 60% das escolas públicas no Brasil são inadequadas para os estudos. Falta espaço para biblioteca, sala de informática, laboratório de aprendizagem. Há problemas de infraestrutura, janelas, ventiladores e móveis quebrados, problemas na iluminação e ventilação insuficientes, infiltrações e paredes mofadas, falha na limpeza e higienização, problema com as caixas d’água e inclusive de saneamento básico. Isto sem falar da falta de professores e de formação adequada para acompanhar os estudantes com deficiência. 

Se por um lado a cada dois anos somos bombardeados pelas campanhas eleitorais que prometem em seus programas partidários que a educação será uma prioridade, na realidade cotidiana vemos que esta prioridade nunca é posta em prática. Pelo contrário, ano após ano vemos as câmaras de vereadores e as assembleias legislativas desmontando os planos de carreira da categoria docente para retirar os poucos direitos conquistados. Vemos a terceirização do trabalho como regra para as atividades meio (cozinheiras, auxiliares de cozinha, segurança, trabalhadoras da limpeza) e todo o mês um problema de pagamento do salário, do vale transporte, do vale alimentação e, infelizmente não raro, o fim do contrato abruptamente, deixando as trabalhadoras com uma mão na frente e outra atrás. 

Enquanto o Estado brasileiro gasta 46% do seu orçamento em pagamento de juros da dívida pública, apenas 2,7% vai para a educação. Há anos existe uma discussão do movimento em defesa da educação pública de que se deveria investir no mínimo 10% do PIB, da educação infantil ao ensino superior. Como falar em meritocracia se partimos de realidades completamente diferentes? Se torna discurso de culpa e de desresponsabilização social para um problema que é coletivo.

Semanas atrás a sociedade discutia a questão da segurança nas escolas, após os atentados. Apesar de olharmos para o problema como um caso de segurança, também é preciso um olhar com mais humanidade e amorosidade para essa situação. No RS, segundo o censo do ano passado, temos um psicólogo para cada 1.370 estudantes. Em Porto Alegre temos somente dois psicólogos e um assistente social para atender 98 escolas e 48 mil estudantes. É urgente a regulamentação da lei federal 13.935/19 que prevê psicólogos e assistentes sociais na rede pública. O que mais precisa acontecer? 

É necessário compreender o que leva jovens a se unirem em células de ódio para machucar outras pessoas, descarregar sua revolta e sua dor. Onde está a perspectiva de vida e futuro para essa geração neoliberal? Qual a nossa responsabilidade enquanto sociedade? E enquanto políticos que legislam e executam as políticas públicas? 

É urgente pensarmos a educação pública, desde a sua estrutura até a sua concepção, pois tem empresário da educação dizendo o que os estudantes devem aprender no ensino médio. É fundamental que os professores, os trabalhadores das escolas, as famílias e os estudantes sejam ouvidos. A tão falada gestão democrática deve ser entendida como uma cultura permanente de debate e decisão nas mãos de todos que vivem a educação. Em 2016 nas ocupações secundaristas vimos o gérmen de uma nova escola, com oficinas auto geridas, temáticas escolhidas pelos estudantes, o cuidado dos estudantes e da comunidade na divisão de tarefas de limpeza, alimentação, tomando a escola para si.

A educação como está não está boa, mas também não podemos retroceder. Portanto fica o convite à reflexão coletiva.

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Opinião

SUS DO TRANSPORTE OU S.O.S EMPRESÁRIOS

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, escreveu no dia 17/04, um artigo para o Jornal do Comércio onde, além de refazer promessas, defende mais uma vez sua ideia de solução para a crise de mobilidade urbana; O SUS DO TRANSPORTE.

A esperteza do prefeito salta aos olhos. Melo traz para o debate o maior e melhor exemplo de política social já construída nesse país, o Sistema Único de Saúde. Elaborado e encampado por Movimentos Sociais das décadas de 70 e 80, antes de ser contaminado pelos diversos interesses privatistas que hoje parasitam o sistema de saúde com terceirizações, parcerias, planos de saúde, esquemas de corrupção, o SUS era originalmente regido por nobres princípios de Universalidade, Integralidade, Igualdade, Gratuidade, Participação Popular… bem diferente do que Melo defende e pratica.

Melo é muito seletivo no que quer trazer do SUS para o transporte público. Essencialmente, rachar a conta dos subsídios transferidos às empresas com as outras esferas do poder e chamar isso de unificação.

Sob a justificativa de manter o preço da passagem no valor atual, que já é muito acima do que realmente vale, milhões de reais são transferidos dos cofres públicos, ou seja, da arrecadação de impostos de toda a população, para as mãos de meia dúzia de empresários que há décadas exploram o transporte da cidade com um péssimo serviço oferecido.

A comparação com o SUS diz muito da concepção de gestão da atual prefeitura. Tanto para o transporte, quanto para a própria saúde e outros direitos, como educação e assistência social. Um governo arranjador de negócios privados e que recorre ao dinheiro público, extraído de um povo trabalhador, para socorrer os lucros de empresários falidos.

Se for pra chamar de SUS do transporte, então que ele seja GRATUITO, UNIVERSAL E PÚBLICO. Transporte não é mercadoria!