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FEDERAÇÃO DO PSOL COM A REDE, NÃO!

O PSOL tem, desde suas origens, a marca de não aceitar os acordos por cima, nem a negociação dos direitos em nome da governabilidade. A partir desta postura, se constituiu como um espaço importante na reorganização das lutas sob a perspectiva dos interesses da classe trabalhadora. Entendemos que uma Federação orgânica com a REDE, a ser votada no Diretório Nacional do PSOL dia 18.04.22, vai na contramão desta trajetória de construção de uma alternativa política de esquerda no país.

Constituir uma Federação envolve não somente uma atuação política conjunta, mas também ter uma Direção Nacional, um Programa e um Estatuto comuns, durante os próximos 4 anos. E isto pressupõe um acordo político e programático entre os partidos. Mas que afinidade programática pode ter o PSOL com a REDE, que tem estreita relação com setores da classe dominante no país, como provam, por exemplo, os aportes milionários de Neca Setúbal (ITAÚ), Guilherme Leal (Natura) e da AMBEV?

As posições políticas adotadas pela REDE, desde sua fundação, confirmam sua identidade como partido da burguesia. Marina Silva declarou apoio ao PSDB de Aécio Neves no 2º turno de 2014. Em 2018, a REDE apoiou vários candidatos do PSDB na disputa por governos estaduais e, no polarizado 2º turno do “Ele Não”, declarou neutralidade, “recomendando” que filiados e simpatizantes não destinassem voto a Bolsonaro. Contribuiu, deste modo, para a catástrofe que tem sido este governo para as/os trabalhadoras/es. A saída apontada pela REDE em relação à crise ambiental é via capitalismo verde, aprofundando a barbárie, e o posicionamento de figuras deste partido contra direitos conquistados com muita luta pelas mulheres, são parte desse repertório.

A formação de uma Federação entre PSOL e REDE enfraquece a perspectiva da construção de uma alternativa no sentido dos interesses inconciliáveis da classe trabalhadora. Se aprovada, o partido cometerá um erro político grave, que vai pra conta da maioria da direção e de setores de oposição, que ajudam a borrar as fronteiras do PSOL, dando largos passos na descaracterização do que o partido tem acumulado na política brasileira.

Consideramos válido o argumento em relação a superação da cláusula de barreira, pois esta cláusula é parte da pressão por afunilar a representação em número menor de partidos políticos. Não ignoramos este problema. Porém, para acessar recursos (financeiros, tempo de TV, etc) não podemos utilizar a lógica do vale-tudo. Hoje, no ano de 2022, se cogita uma Federação orgânica com um partido ecocapitalista como a REDE, quão elástica será a aliança, sob este mesmo argumento, com o aumento da cláusula de barreira, daqui a 4 anos?

Tornar as organizações das/os trabalhadoras/es refém dos ditames desta cláusula, é exatamente o interesse dos de cima. O antídoto para este problema é justamente o contrário do que se opera no partido.

Precisamos apostar no avanço da elaboração política, na delimitação de nossas fronteiras, e na organização de setores mais amplos da população trabalhadora, enraizando nossos trabalhos, para além das disputas de militantes entre as correntes.

Nossa batalha é pela construção de um instrumento que reforce a politização, a combatividade e o protagonismo da classe trabalhadora, na perspectiva de transformações profundas na sociedade. Dos setores que compõe a maioria dirigente do PSOL não esperamos nenhum passo nesse sentido. O programa que defendem não é o da transformação da sociedade, mas o da adaptação às instituições da ordem, que tem conduzido o partido a uma adesão acrítica ao lulo-petismo. Infelizmente, a contradição de defender uma Federação com a REDE se estende a setores da esquerda do partido, que poderiam contribuir de forma decisiva para que este passo não seja dado.

Nós, do Coletivo Alicerce, compreendemos que a batalha consequente pela construção do PSOL como instrumento de luta e transformação profunda da sociedade é parte estratégica da luta para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, que passa por constituir força social para disputar o processo de reorganização da esquerda no conjunto da sociedade.

17.04.22

Coletivo Alicerce

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