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Racismo não é opinião, é crime!

Não podemos naturalizar o racismo hegemônico e nem permitir que formadores de opinião pública saiam impunes diante de comentários criminosos.

Sete de novembro de 2019 foi um dia triste para a história do radialismo brasileiro. De um lado, a agressão física ao jornalista Glenn Greenwald, durante programa ao vivo na Rádio Jovem Pan. De outro, aqui em Porto Alegre, os comentários incisivamente racistas do radialista Rogério Mendelski, envolvendo o nome de Marielle Franco – vereadora do Rio de Janeiro que foi brutalmente assassinada em 2018 – e afirmando que cabelo crespo é horroroso. Tudo ao vivo, em veículos de comunicação que têm um grande
alcance.

Não podemos naturalizar o racismo hegemônico e nem permitir que formadores de opinião pública saiam impunes diante de comentários criminosos. Racismo não é opinião. Racismo é crime. A nota divulgada pelo gerente de Jornalismo da Rádio Guaíba, Nando Gross, é muito pouco diante da gravidade das declarações de Mendelski. Em 2018, o jornalista William Waack foi demitido da Rede Globo ao dizer, em tom de
chacota, que ‘só podia ser preto’. O operador de câmera do programa ‘A Fazenda”, da Record, chamou a ex-miss São Paulo, Sabrina Paiva, de ‘macaca’ e também foi demitido.

Foi explícito, ao vivo e em uma rádio de repercussão estadual. Reflete a velha opinião baseada em um padrão de beleza eurocêntrico que diminui e expressa desprezo à estética negra. Fatos como esse são corriqueiros no Brasil, principalmente pelo processo de escravização que vincula tudo que é negro a significados ruins. Também evidencia o processo de colonização pautado em teorias eugênicas de embranquecimento da população brasileira.

Enquanto mulher negra que sou, que sente a discriminação na pele todos os dias, e como única vereadora negra dessa cidade, de cabelo crespo igual ao da Marielle, me senti desrespeitada por Rogério Mendelslki. Além disso, é extremamente criminoso o pacto racista que permeia o silenciamento sobre a infeliz fala do radialista.

A Rádio Guaíba deveria de forma séria em relação ao ocorrido. Se, como diz a nota publicada por seu gerente de jornalismo, está em seus princípios que a Rádio não aceita de forma alguma manifestações racistas, Mendelski deveria ser demitido imediatamente.

Ao radialista, um recado: tire o seu racismo do caminho que nós iremos passar com a nossa cor, com as nossas tranças e com os nossos cabelos crespos!