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Custo da má gestão de Marchezan não pode ser transferido para a população

O pacote para o transporte público caiu como uma bomba na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. De forma atropelada, os vereadores foram convocados durante o recesso parlamentar para sessões extraordinárias exclusivamente para votar a matéria. Com a aprovação de todas as medidas haveria, segundo o prefeito Nelson Marchezan Jr., uma redução de tarifa dos atuais R$ 4,70 para R$ 2,00.

Mas existem questões que o executivo precisa responder: com base no que elaborou esse prognóstico? Qual a intenção de votar de forma urgente uma questão tão complexa e central para a cidade?

Há pelo menos duas possibilidades por trás dessa pressa. A primeira é a construção de uma narrativa que culpabilize os vereadores e justifique o aumento da passagem para R$5,20. A segunda é desviar o foco do escândalo das planilhas onde constam todas as receitas e custos do transporte e que são o tendão de Aquiles para pensar a mobilidade urbana.

Por força da lei, o poder público deve gerenciar todos os valores de bilhetagem dos ônibus. As empresas de ônibus estão isentas do Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN) e, em contrapartida, devem passar o controle da bilhetagem para a prefeitura por intermédio da EPTC. Porém, na prática, isso não é cumprido. E existe evidente omissão do executivo em combater a ilegalidade, já que não utiliza os meios administrativos e jurídicos para fazer valer a lei.

Além disso, o edital de concessão prevê que toda arrecadação extra seja utilizada para baixar o preço da passagem. Mas foi somente a partir da pressão do Ministério Público de Contas (MPC) que a prefeitura encaminhou um projeto para a Câmara que obrigava que os ganhos com publicidade nos ônibus fossem aplicados na modicidade. Esse projeto foi à votação no dia 19 de dezembro de 2019 e rejeitado pela base do governo.

Precisamos discutir as alternativas com seriedade, pois o atual modelo de mobilidade urbana enfrenta um paradoxo. Todas as medidas que as empresas apresentaram desde a licitação de 2015 corroboram para que cada vez haja menos usuários andando de ônibus. Fim da segunda passagem gratuita, diminuição de linhas e horários, a possibilidade de tirar os cobradores de ônibus, a probabilidade de limitar ainda mais o meio passe estudantil, são propostas que já foram apresentadas e que não contribuem para melhorar a qualidade e nem incentivar o uso do transporte coletivo.

Os aplicativos, nesse sentido, apareceram como uma complementação importante para o acesso ao transporte. E por outro lado, amenizam o desemprego que se aprofunda na cidade e no país. Porém, se todas as pessoas que utilizam transporte coletivo migrarem para o transporte individual a cidade vai objetivamente parar, pois a malha viária urbana não tem como suportar o número cada vez maior de carros circulando.

Os ônibus da cidade podem ser melhores, modernos, com mais linhas e horários sem necessariamente aumentar o custo para os usuários. Mas para isso, precisamos recuperar as planilhas orçamentárias. Também é fundamental que a lei já existente seja cumprida. E é necessário que seja rediscutido o projeto rejeitado em 19 de dezembro.

Apenas com transparência e gestão pública dos recursos é que poderemos pensar saídas para o problema. Sem saber o valor arrecadado com bilhetagem, publicidade e multas não podemos presumir que a passagem irá aumentar ou diminuir. Isso significaria transferir para população os custos da má gestão de Marchezan. E essa conta o povo não pode pagar.

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Onde estão as planilhas do transporte público, Marchezan?

Enfrentamos uma batalha por vez na Câmara de Vereadores de Porto Alegre para conseguir barrar as sandices do prefeito Nelson Marchezan Jr. e de sua base aliada. A bola da vez é o transporte coletivo da cidade – o que não é novidade, pois sempre no início do ano é de praxe chegar no Conselho Municipal de Transportes Urbanos (COMTU) o pedido para aumento da tarifa de ônibus.

A novidade de 2020 é a distribuição da responsabilidade do financiamento do transporte coletivo. De acordo com a lógica do prefeito, novamente todos terão que fazer sacrifícios: os motoristas de aplicativo, quem tem placa de fora de Porto Alegre e circula na cidade, os cobradores de ônibus e, por consequência, toda a população da capital – que arcará com os custos das taxações e de um transporte cada vez mais sucateado. Todos, menos as empresas e os empresários que estão há décadas controlando o transporte público da cidade!

O que o governo não diz é que o pacote de mudanças na mobilidade urbana da cidade, de fundo, é uma tentativa de legalizar problemas seríssimos de controle e gestão das contas que envolvem toda a bilhetagem arrecadada e que deveriam estar sob responsabilidade do poder público. A lei municipal que permitiu isenção de ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) às empresas de ônibus têm como contrapartida obrigatória a criação de um ‘fundo’ para a mobilidade urbana – ou seja, as empresas têm que transferir a gestão e a administração do sistema de bilhetagem eletrônica do sistema de transporte coletivo por ônibus ao Município de Porto Alegre. Soma-se a isso a ‘caixa preta’ em que estão alocados os valores arrecadados com propaganda pelas empresas e que ninguém tem acesso, sendo que esses valores deveriam ser utilizados para abater o preço das passagens (modicidade tarifária).

Outro fator gravíssimo de omissão é a não execução das multas previstas nas cláusulas contratuais com as atuais empresas. Durante os últimos três anos, nenhuma empresa cumpriu as metas de qualidade previstas. Somente essa semana foi publicado no Diário Oficial de Porto Alegre (DOPA) a sentença de três penalidades, acarretando em penalidades de multas que, somadas, chegam a um valor de 2 milhões de reais. A pergunta que fazemos é: esse valor será utilizado para a modicidade tarifária, senhor prefeito?

Em parecer parcial do Ministério Público de Contas (MPC), que está apurando tais ilicitudes, fica explícita a morosidade com que a gestão de Marchezan vem lidando com as empresas, além de estar abrindo mão de suas responsabilidades.

A verdade é que o governo Marchezan quer aprovar um pacote de medidas para a mobilidade urbana sem ter conhecimento sobre a real situação das planilhas orçamentárias das empresas concessionárias. Não à toa, é recente a movimentação da prefeitura em recorrer a uma liminar na justiça para que as empresas declarassem a arrecadação com publicidade. Assim como só agora, há menos de dois meses, foi feita a contratação de uma empresa de auditoria para fazer o levantamento da bilhetagem dos ônibus desde o ano de 2006.

Não podemos votar projetos com tanto impacto para a cidade de Porto Alegre sem que realmente estejamos a par da situação orçamentário do transporte coletivo!