A população de Porto Alegre é composta por quase um milhão em meio de habitantes, divididos em 81 bairro – sendo os mais populosos os periféricos Rubem Berta, Sarandi, Restinga e Lomba do Pinheiro. Essa forma como a cidade se expandiu para as margens é fruto de políticas de remoções urbanas, um processo migratório que fomentou cisões de classe e raça.
Em um mesmo município é possível observar padrão de vida equivalente a países de primeiro mundo e, a poucos quilômetros de distância, existem áreas sem saneamento básico, sem e asfalto, com realidade de fome e miséria.
A distribuição dos equipamentos de saúde também não se dá de forma equitativa nas diferentes regiões. Para o atendimento dos bairros mais populosos, periféricos e empobrecidos, a capital gaúcha conta com apenas quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) e há no máximo, em cenário extremo, previsão 383 leitos de Unidades de Tratamentos Intensivos (UTI’s) públicos.
Agora, diante da pandemia do novo Coronavírus, é urgente que se evite que essas disparidades regionais, econômicas e raciais já existentes em nossa cidade sejam instrumentalizadas na decisão de quem irá viver e quem irá morrer. Uma forma ágil e eficiente de garantir acesso universal e igualitário é a criação de uma Fila Única para leitos hospitalares aos pacientes de Covid-19. Emergencialmente, e enquanto durar a pandemia, os leitos e serviços hospitalares de UTIs e CTIs da rede privada e filantrópica de saúde precisam ser centralizados e organizados pelo poder público municipal, criando assim uma porta de entrada única para toda a população que necessita de atendimento.
Diante do trágico cenário brasileiro, em que há mais de cem mil infectados e mais de 7 mil mortes em decorrência da Covid-19, a decisão sobre quem vive e quem morre, sobre quem consegue atendimento hospitalar e quem agoniza em filas de espera por um leito não pode depender da condição financeira de quem está sofrendo.