O conteúdo do pedido de impeachment do prefeito Marchezan que chegou à Câmara dos Vereadores, no dia 21 de agosto de 2019, é muito grave e merece ser investigado. De todos que já foram apresentados ao legislativo, este é, com certeza, o que possui maior grau de embasamento e consistência nas denúncias. E a sociedade porto-alegrense merece explicação sobre as acusações contidas no documento.
Indicações para cargos de confiança envolvendo pessoas que possuiriam vínculo de parentesco (a denúncia indica que dois assessores são cônjuges e que o prefeito Nelson Marchezan sempre teve ciência disso) incorre em crime de nepotismo e, se for confirmado, significa improbidade administrativa. Não cumprimento de leis estaduais e municipais igualmente significam improbidade administrativa. O que mais nos choca, no entanto, são as denúncias que versam sobre como empresas privadas, em conluio com a política partidária e representativa dentro dos órgãos públicos, se utilizariam dessa relação promíscua para impor seus negócios escusos e garantir contratos e privilégios econômicos e políticos.
O caso de Michel Costa, que foi indicado ao cargo de diretor técnico da Procempa e que seria representante comercial da empresa que venderia tecnologia de reconhecimento facial e câmeras para os ônibus da cidade, tendo chegado a ocupar posto de conselheiro da Carris, reflete essa deturpação do público em benefício de setores privados. Promiscuidade que também aparece no caso do ‘Banco de Talentos’, que envolve falta de transparência, falta de licitação e, principalmente, falta de vergonha na cara e mau uso do dinheiro público.
Outra grave acusação é sobre como foram impostos, nesses três anos de gestão Marchezan, os interesses individuais do seu grupo político (PSDB) em detrimento das necessidades da população. A crise orçamentária serviu, entre outros prejuízos, para modificar o plano de carreira dos servidores públicos e não garantir reajuste inflacionário à categoria do município. Porém, benesses seriam garantida aos ‘amigos do rei’. O loteamento da Divisão de Conservação de Vias Urbanas (DCVU) para departamento de compadrio e o aluguel de imóvel com valor mensal de R$ 111.496,45 para Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, inclusive com pagamento de vagas de garagem para CC’s seriam evidências deste fato.
É frente a essas graves denúncias que se torna imprescindível dar ênfase ao conteúdo apresentado. Exigimos que haja uma investigação séria sobre os casos. Para isso, o processo deve ser aberto, o conteúdo analisado e os resultados apresentados de forma transparente para a população, que não aguenta mais ver os conchavos políticos enquanto sofre com os impactos do abandono da cidade e dos serviços públicos.