Neste domingo (7), no Brasil, terceiro país no mundo com mais mortes e casos de contaminação, ocorreram importantes manifestações contra o presidente protofascista Jair Bolsonaro. Grandes capitais brasileiras como São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS, Salvador/BA, Goiânia/GO e Belo Horizonte/MG marcharam em luta antifascista e antirracista.
No Brasil, morre mais de uma pessoa por minuto em decorrência do coronavírus. A grave crise econômica que iniciou em 2014 e elevou o desemprego há mais de 12 milhões de trabalhadores/as se aprofundou no último período com as contrarreformas neoliberais de Michel Temer e Jair Bolsonaro — contrarreformas trabalhista, da previdência e a imposição de limite de gastos em políticas sociais. Além de não resolver a questão do desemprego essas reformas elevaram o número de trabalhadores/as precarizados/as ou trabalhadores/as informais sem direitos — 59,8 milhões de trabalhadores sem direitos trabalhistas — e rebaixaram as condições de vida e trabalho.
A situação de crise sanitária se somou às diversas questões históricas e estruturais do período colonial jamais resolvidas no país. No Brasil, último país do mundo a abolir a escravização, os dados são gritantes: 75% dos/as mais pobres são negros/as; 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza. O racismo se apresenta na negação dos direitos mais básicos como saúde, educação, habitação, saneamento básico e emprego. Pretos/as e pardos/as sem escolaridade morrem quatro vezes mais pelo novo coronavírus do que brancos/as com nível superior no Brasil.
Jair Bolsonaro, alinhado ao governo de Trump, negou a situação de pandemia e a classificou como gripezinha. Até o momento 691.962 de brasileiros/as foram infectados/as e 36.499 morreram. No entanto, como não há uma política de testagem em massa, sabemos que esse número é muito maior e há estudos que sugerem que a subnotificação seja de 4x a 14x maior.
A política do governo federal para as trabalhadoras e trabalhadores foi o lançamento de Auxílio Emergencial durante três meses. Esse auxílio financeiro consiste num repasse mensal de R$ 600,00 ou pouco mais que meio salário mínimo que já é extremamente insuficiente para viver. Mais de 96 milhões de brasileiras e brasileiros solicitaram o auxílio, porém apenas 59 milhões receberam . Por outro lado, o governo lançou Medida Provisória (MP 927/20) em que autorizou a redução da carga horária com redução de salários e não há política contra novas demissões. Até o momento foi gasto R$ 152 bilhões de reais com o Auxílio Emergencial e R$ 1,2 trilhão disponibilizados aos bancos brasileiros.
Nas comunidades de periferia das grandes cidades brasileiras o coronavírus tem sua mortalidade potencializada. Estima-se que 11,5 milhões de brasileiros moram em casas superlotadas, com mais de três pessoas por dormitório, e 31 milhões não têm acesso a uma rede geral de distribuição de água. Em 2010, se contabilizou 6.329 favelas em 323 municípios. Combinado a isso, a mercadorização da política pública de saúde e a privatização de leitos reforça a segregação racial e econômica, além da ausência de condições de trabalho para trabalhadores essenciais da saúde como a falta de equipamentos de proteção individual.
A juventude e as trabalhadoras e trabalhadores começam a ganhar as ruas brasileiras num contexto de muita instabilidade e com potencial explosivo. As grandes promessas que nasceram com a globalização e o neoliberalismo se desmancharam no ar. Num país polarizado e em luta contra a extrema direita a justiça é o protagonismo da comunidade negra conquistando a dignidade, o respeito e a riqueza que foi roubada por séculos de escravidão. A saída para a situação brasileira passa necessariamente pela derrubada do governo Bolsonaro e por uma política de superação do genocídio do povo negro e da conquista da igualdade substancial.
*Artigo produzido pelo coletivo Alicerce e traduzido por Natalia D’Amico para a Agencia de Noticias RedAcción (ANRed) da Argentina.