Categorias
Opinião

Sobre as eleições de 2024: Unidade sim, mas para transformar a cidade.

Em primeiro lugar, não devemos subestimar a força de Sebastião Melo e o perigo de sua reeleição. Representante declarado do bolsonarismo, o atual prefeito de Porto Alegre vem conseguindo a proeza de aprofundar o projeto de cidade neoliberal, segregada, desigual, violenta, herdada de seus antecessores, mas tem passado bem mais de “lombo liso” do que eles.

Fortunatti teve de enfrentar nada menos do que a fúria de junho de 2013, que carimbou negativamente sua imagem enquanto prefeito. Marchezan Jr. não teve um final muito diferente. Desde o início de sua gestão já havia uma oposição ferrenha, com o Fora Marchezan. Na tentativa de reeleição, sequer foi ao segundo turno.

Melo é diferente. Apesar de levar adiante projetos que atacam diretamente a maioria do povo, como o fim do meio passe estudantil, a venda da Carris, a terceirização da saúde e da educação, de abandonar os bairros e vilas de periferias, sempre no sufoco com a falta de água, falta de luz, de esgoto, de pavimentação, de estrutura mínima, apesar de deixar nítido seus serviços para as elites, dando isenções, recursos, realizando obras apenas para valorizar e criar negócios pros ricos e poderosos, ainda assim Sebastião Melo não parece tão desgastado quanto os outros. Os recentes escândalos abalaram um pouco sua popularidade, mas não dá pra dizer o quanto.

Em parte isso pode ser explicado pela sua habilidade política, cheia de recursos de cooptação, bem como pelo investimento pesado e vergonhoso em auto publicidade. Hoje vai mais dinheiro para suas peças bem feitas de propaganda, que pintam uma cidade que não existe, do que para a maioria das políticas sociais. Mas não só. Com uma oposição institucional e mais preocupada com o próximo pleito eleitoral, Melo tem surfado no mesmo vazio de política embaixo, na rua, no olho a olho da população, que Bolsonaro surfou.

Nos parece óbvio que é preciso debater e começar a construir as pontes necessárias para uma possível unidade da esquerda capaz de impedir a tragédia de um segundo Melo. Mas, o bolsonarismo se alimenta da crise e da desigualdade. O autoritarismo se fortalece com o desemprego, a informalidade, o medo de perder numa sociedade cada vez mais concorrida.

Para derrotar Melo precisamos enfrentar os problemas reais da cidade, com mobilização e luta do povo. Encontrar soluções para a miséria, o desemprego, a fome, a precarização da saúde, da educação, do transporte, e batalhar por elas até as últimas consequências. Precisamos de uma outra lógica de cidade e, portanto, de prefeitura. Precisamos de um governo radicalmente democrático, com o poder construído de baixo para cima, com debate e condições igualitárias de participação.

A escolha dos nomes e a elaboração de uma plataforma unitária poderia ser um bom exercício para forjar uma verdadeira alternativa a Melo e ao bolsonarismo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *